Luxo exótico

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Um animal que atinge mais de 200 quilos, cuja carne é apreciada, e o couro, badalado por designers e grifes de alto padrão. 

Parece boi, mas é o pirarucu. O “gigante da Amazônia" é historicamente perseguido pela carne suave e abundante. Ameaçado de extinção, o peixe é um queridinho da aquicultura: cresce rápido, pode ser criado em alta densidade e rende filés com quase 60% do seu peso.

A tradição mandava preparar o pirarucu na brasa – levando ao desperdício da pele. Aos poucos, ela foi descoberta por designers e grifes que a empregam em peças como sapatos, bolsas e móveis.


Abundância controlada


O couro do pirarucu tem boa reputação. Ele apresenta diferenciais em relação ao bovino: por possuir fibras entrelaçadas, sustenta mais tensão. Mas tem peculiaridades onerosas. "É preciso saber trabalhar o peixe, já que o tamanho oferece mais dificuldades do que o couro bovino. Muitas peças precisam ser costuradas à mão", explica a engenheira florestal Rose Dias.

As dificuldades não impediram a Givenchy de lançar, em 2014, as primeiras bolsas de pirarucu feitas por uma grife internacional. Seu preço chega a US$ 4,5 mil.


Brazilian born


O couro do pirarucu é um trunfo amazônico e brasileiro. Imprime às peças um pedacinho da identidade do país, ao mesmo tempo em que sinaliza para o cuidado com a riqueza natural do Brasil.

O designer e estilista Ronaldo Fraga já utilizou a pele em móveis e sapatos. Em edições mais recentes da São Paulo Fashion Week (SPFW), o material figurou em peças de Oskar Metsavaht – o nome por trás da mundialmente renomada grife carioca Osklen. 

Metsavath firmou parceria com o curtume Nova Kaeru, especializado em couros exóticos, para uma linha cuja estrela é o peixe amazônico. Toda a produção é fiscalizada pelo Instituto-E, que promove a sustentabilidade no mundo da moda.


Produção sustentável


Rose Dias e o marido, o engenheiro Aidson Ponciano, foram pioneiros na exploração do animal. Em 2000, eles fundaram a Green Obsession, com o objetivo de tornar mais sustentável a cadeia de consumo do peixe. 

A pele corresponde a cerca de 10% do peso do pirarucu. Assim como a pele, ossos, escamas e vísceras do animal têm destino garantido, da indústria ao artesanato, encerrando um ciclo verde que começa em viveiros credenciados. 

A Green Obsession qualifica mão de obra em regiões pobres de Manaus para trabalhar o couro. “São peças exclusivas, ecologicamente corretas e especiais, porque são da Amazônia, um dos lugares mais mágicos e ricos do planeta”, afirma Aidson.